segunda-feira, 9 de maio de 2011

Você Doaria Brinquedos aos Nazistas?


(Para quê confirmar a Lei de Goodwin no final de discussão, se já podemos fazê-lo no título?)
Se o partido nazista da sua cidade estivesse organizando um mutirão pra recolher agasalhos para os pobres, "Nazistas contra o Frio Nesse Inverno", você doava?
Se tivessem um lar para jovens órfãos abandonados, todos muito bem cuidados por simpáticas e loiras enfermeiras de suástica no braço, você iria lá visitar as criancinhas?
Se fizessem uma coleta de brinquedos para crianças carentes, cujo centro de distribuição fosse na Sede Regional do partido e, para pegar seus presentes, as crianças precisassem entrar lá, ver os pôsteres nazistas na parede, talvez pegar alguns dos panfletos "O Nazismo e Você", você participava? Doaria um brinquedinho?
Imagino que você, amigo leitor, responderia que não. E talvez ouvisse de volta:
Não?! Que egoísmo! Mas e daí que os nazistas estão organizando? Poxa, até parece que você não se importa com as criancinhas órfãs carentes sem brinquedo passando frio! Com essa sua teimosia, você não está prejudicando os nazistas, mas sim as pobres criancinhas que vão ficar sem o brinquedo que você poderia ter doado! Aliás, esses pobres nazistas não devem ser tão ruins como você pinta, viu? Afinal, eles estão ajudando as criancinhas loirinhas carentes e você não!
Ridículo, né? Mas, diga lá, amigo leitor: se você não doaria brinquedos aos nazistas (nem que fosse pra ajudar criancinhas carentes!), por que cargas d'água eu teria que fazer isso com a Igreja Católica? Ou por que jogadores de futebol evangélicos teriam que participar de uma ação beneficente espírita?
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 Futuro de uma Ilusão Deus , um Delírio
Nunca li Dawkins, que sempre me pareceu um ateu militante, algo que desprezo um pouco, mas Freud em O Futuro de uma Ilusão já falou tudo o que eu sempre quis dizer sobre religião.
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Perdão por usar os nazistas no meu exemplo. Eles ainda são praticamente o único grupo que todo mundo odeia - ou pelo menos não tem coragem de elogiar publicamente. Fiquem à vontade para substituir nazistas por: racistas, reacionários, separatistas, ateus, comunistas, ruralistas, socialistas, conservadores, etc, de acordo com as suas preferências políticas ou filosóficas.
Eu substituo por "religião organizada monoteísta".
Na verdade, usei os nazistas como exemplo somente para que vocês captem o meu horror. Pra mim, a Igreja Católica é infinitas vezes mais assassina, mais nociva, mais perversa, mais perigosa do que o Partido Nazista Alemão. Em primeiro lugar, na simples contagem de corpos, nos números absolutos mesmo. E, em segundo lugar e mais importante, porque ela ainda está aí, causando estragos HOJE, molestando crianças, lutando contra métodos contraceptivos, combatendo o direito ao aborto.
O que é UM Führer perto de 266 Papas?
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Essa semana, um grupo de jogadores de futebol se negou a participar de um evento beneficente em um Lar Espírita. Como foram levados pra lá de surpresa, sem saber se tratar de um evento/local religioso, os jogadores, de acordo com suas consciências, não tiveram outra opção a não ser ficar no ônibus do time, como se fossem crianças mimadas. Houve boatos de ser um protesto por falta de pagamento, mas, em entrevistas posteriores, os atletas, muitos deles evangélicos, revelaram se tratar de uma questão de consciência: tinham suas reservas religiosas quanto ao Espiritismo e preferiram não participar de um evento promovido por essa religião.
Entendo perfeitamente a posição dos jogadores. Eu também jamais participaria do evento e, se tivessem me levado pra lá sem avisar, também ficaria de braços cruzados dentro do ônibus.
Como sempre digo, a diferença prática entre um ateu e um religioso é mínima. O religioso acha que todas as religiões do mundo estão erradas, menos uma. O ateu acha que todas as religiões do mundo estão erradas, inclusive essa! Ou seja, concordam em quase tudo!
Entretanto, pra minha surpresa, os jogadores começaram a levar pedrada de todos os lados, tanto de religiosos quanto ateus.
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 Bíblia de Jerusalém Bíblia do Peregrino
As duas melhores Bíblias em português, de Jerusalém e do Peregrino. Disparado. Recomendo. Amo as duas e carrego pra onde vou.
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Quem me lê sabe que não sou ateu militante. Não escrevo mil posts sobre isso. Não tento convencer ninguém de nada. Se você precisa de Deus pra sua vida fazer sentido, então fica na paz, irmão. Não tenho nada com isso.
Mas essa situação pela qual passaram os jogadores de futebol eu passo sempre. E eu, Alex-indivíduo, na minha ação individual na esfera pública, faço questão de não participar de nenhuma iniciativa promovida por qualquer religião organizada. Ou seja, participo de ceias de natal particulares e compro ovos de páscoa da Nestlé, etc, mas não compro produtos SuperBom, não vou à festa junina da paróquia, não faço doações para campanhas da CCBB.
(Uma das cláusulas do meu testamento é que nada meu seja doado para nenhuma organização religiosa e que façam o que quiserem do meu corpo, exceto colocá-lo em solo "santo". Aliás, se vocês tiverem sugestões de organizações filantrópicas não-religiosas, estou sempre procurando. É uma decisão complicada. A Cruz Vermelha, por exemplo, gasta a maior parte das doações que recebe pagando sua própria folha. Ou seja, você dá R$100 pro cara, ele embolsa R$70 como salário e dá R$30 pra um haitiano faminto. Lindo, né? Atualmente, caso meus executores não tenham tempo/paciência de buscar por alternativas melhores, recomendo doarem tudo para o Retiro dos Artistas, que é uma casinha simpática ali no meu bairrinho querido, cuida de artistas pobres bem como eu e não têm, que eu saiba, afiliações religiosas alguma. E, sim, fiz meu testamento aos 18 anos, e o mantenho sempre atualizado. Aliás aliás, uma das coisas mais engraçadas da vida é acompanhar as evoluções do meu testamento e como eu progressivamente me importo com menos e menos coisas; passou de 19 itens em 1992 para 3 em 2010: basicamente o que desejo que façam com 1) minha "obra" (sic), 2) com meus livros e 3) com meus restos.)
Uma amiga perguntou:
"Poxa, Alex, você deixaria de participar de uma campanha de coleta de brinquedos organizada por uma igreja? Mas a igreja não está ganhando nada! Ela só recebe os brinquedos e as crianças vão buscar na paróquia."
Sim, deixaria. Sim, não participaria. Jamais participaria de nenhuma iniciativa que fizesse com que crianças em idade impressionável visitassem uma paróquia. Ou um lar espírita. Ou a sede regional do DEM. O que seja.
A questão é simples: se os nazistas estão promovendo uma campanha pra recolher agasalhos, é porque algum benefício político isso vai lhes trazer. É porque querem melhorar sua imagem, mostrar seu "outro lado". Se organizam uma coleta de brinquedos que faz as crianças irem buscá-los na paróquia, digo, na sede regional do partido, é porque querem que as crianças entrem lá, é porque querem a chance de ganhar suas mentes, de vender seu peixe, de passar um panfleto - ou de molestá-las, claro. Não vamos esquecer os molestamentos.
(O Vaticano, pra colocar panos quentes nos escândalos, disse que eles envolviam somente 4% dos padres. Na prática, isso quer dizer que a cada 25 vezes que procurar seu padre, um católico praticante vai receber apoio espiritual 24 vezes e ser sexualmente molestado só uma vez. Pô, é uma boa média, esse povo reclama de tudo!)
Se receber um brinquedo da Igreja Católica (ou do Partido Nazista!) fizer uma criança ver essa organização com mais simpatia, se esse brinquedo fizer com que tenha curiosidade pela Igreja e volte mais vezes, se esse brinquedo a fizer achar que "poxa, quem sabe, vai ver eles não são tão ruins assim, então, esse brinquedo já saiu caro. Porra, esse brinquedo pode custar a vida dessa criança. Esse brinquedo pode fazer com que ela, daqui a cinco anos, quando perder a virgindade, não use camisinha e, caso engravide, não aborte. Esse brinquedo pode fuder com toda a sua vida.
Então, se querem saber, sim. O presente é caro. Muito caro. E eu não quero participar. Não quero ter isso na minha consciência.
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Não estou em guerra contra a religião organizada, nem ela contra mim. Felizmente, sou cidadão de uma democracia, moro em outra, e ambas levam a sério a liberdade religiosa e a separação Igreja/Estado. Enquanto eu poder ser livremente ateu, não vou nunca me engajar em uma luta, nem mesmo verbal, contra a religião organizada. Assim como a indústria do cigarro, os partidos e religiões também sabem que precisam sempre de novos consumidores, ou desaparecem. Se agirem dentro da lei, tudo bem. Se os nazistas querem distribuir agasalhos aos pobres, que seja. Que corrompam quem se deixar corromper. Que seduzam quem se deixar seduzir.
Mas EU, o Alex-pessoa-física, me recuso a ser cúmplice de uma ação cujo objetivo final é avançar o projeto político de uma organização nojenta, detestável, assassina, nociva. Não serei jamais colaboracionista do monoteísmo contra a humanidade.
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Ah, já ia quase me esquecendo: feliz páscoa!
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Dito isso, sou ateu (leia a Prisão Religião) e a Bíblia é meu livro preferido (A Bíblia como Literatura). Leia também: Pessoas-que-Acreditam-em-Coisas.
 Guia Literário da Bíblia
Esse é o melhor livro para quem quer ler a Bíblia como literatura, e não como aquele livro chato que Tia Candinha sempre carrega pra cima e baixo. Depois desse Guia, você nunca mais vai encarar a Bíblia do mesmo jeito.

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