O auto da barca do inferno - Parceria Artes e Portugues

Auto da Barca do Inferno (Gil Vicente) Adaptação livre - peça apresentada pelos alunos do 6º, 8º e 9º anos em 2015 – Escola Municipal Machado de Assis

Personagens

1-        Diabos

2-        Biabrete

3-        Auxiliar Diabo

4-        Anjo:

5-        Auxiliar do Anjo

6-        Bufão:

7-        Jovem do celular:

8-        Nobre Gaúcho

9-        Traficante:

10-    Drogado:

11-    Aluno 1

12-    Aluno 2

13-    Torcedores: Daniel, Charles,...

14-    Punkeira

15-    Punkeira

16-    Maria Gostosa

17-     Maria Boa

18-    Maria Vai com as Outras

19-    Jogador

20-    Pescador

21-    Professor

Narrador: (Bom dia ou boa tarde ou boa noite) não sei se vocês ainda me conhecem, eu sou o Bufão, bobo da corte, arlequim, podem me chamar como quiserem. Existo desde a idade média, estive presente na corte dos reis, no teatro popular, sou cômico e muitas vezes considerado desagradável por apontar de forma grotesca os vícios e as características da sociedade.

Juntamente com vocês, maravilhoso publico, quero refletir sobre a nossa sociedade, nossos vícios e preconceitos, nossa pobreza, pobreza humana é claro, que nos impede de escolhermos o certo e optarmos pelas facilidades e os prazeres mundanos do mundo.

Para auxiliar o entendimento de vocês, não que eu ache burros, mas apenas lerdos de pensamento. Vou contar uma historia.

Narrador: Após a morte as almas vão para o paraíso ou para o inferno, é o que conhecemos como juízo final. Em um rio encontram-se duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo e a outra com destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são almas que seguirão para o inferno ou o paraíso. Antes dos mortos começam a chegar! Vou apresentar para vocês os capitães das duas naus.

  (o bobo começa a pular como um lutador num ringue)

Virginia: O homem não nasce nem bom, nem mau. Nascemos em uma sociedade marcada por regras historicamente construídas, inclusive definidora do que é bom ou ruim. Quando nascemos somos moldados de acordo com tais regras. A metáfora da "folha em branco" nos ajudará a pensar essa perspectiva.

Nascemos como “uma folha em branco”. Não temos história, apenas nossos instintos. Ao longo da vida vamos passando por experiências sociais, como se fossemos amassados. Isso seria as nossas experiências sociais. Por mais que buscamos desamassar uma folha, permanecerá nela marcas, umas mais profundas, outras menos.

A minha esquerda eu apresento o anjo do mal, Lúcifer o anjo caído, o líder da legião que busca os prazeres, as facilidades do mundo: os roubos, assassinatos, avareza e todas as pestes que escravizam o homem. (o diabo entra com a legião do mal dançando). (Brendon, Camila e Wesley)

A minha direita o anjo da paz, digno servidor dos direitos humanos, da honestidade, da amizade, da fidelidade, etc, etc, etc. (o anjo entra dançando). (Lucinete)

Diabo: (Brendon) Que belo dia, com águas tranquilas...

             Muito bem! Coloca a corda para içar a vela e um banco para as pessoas que virão. É tempo de nos prepararmos para a partida!

Diabo:    Venham, venham, todos!

                Antes que a maré mude!

                Levante a vela, agora!

Diabo (nervoso)       Mas que raios você está fazendo?!

                                  Não terminou ainda?!

Auxiliar do Diabo (amedrontado) Já estou terminando, mestre!

Diabrete:    Rápido! Afrouxe aquela corda!

                    Desamarre aquela, ali! Faça o que o mestre mandou!

Auxiliar do Diabo(olhando feio para a diabrete pergunta): Quem tu pensas que és?                                       

Diabrete:   Ora essa, quem sou eu, a preferida do mestre.                 

Auxiliar do Diabo:     Bom...  Então é melhor que tu me ajudes aqui?

Diabrete: Eu te ajudar? Há-há! É claro que não!

                E é melhor você voltar ao trabalho porque o chefe não é muito paciente não.

Auxiliar do Diabo:    Sim, sim! Feito! Feito! Tens razão.

Diabo: (entusiasmado fala com a diabrete): Mas que beleza de barca...                   

Coloque balões, bandeiras! Toquem trombetas!

 Diabrete: É festa! Hoje esta barca enche! Hahahaha...

Diabo: Venham, venham para a barca, que a maré é boa!

            Vá buscar aquele ali. (empurra o ajudante)

ESTANCIEIRO GAÚCHO(Cristian)
Estancieiro Gaúcho - Ala-putcha-tchê, para onde vai esta barca?
Diabo- Poderoso senhor!!! O senhor por aqui?
Estancieiro Gaúcho - Para onde vai esta barca?
Diabo - Para o inferno!!!
Estancieiro Gaúcho - Parece um cortiço!!!
Diabrete – É porque enxerga de fora!!
Estancieiro Gaúcho - E encontra quem queira entrar aí, tchê?
Diabo - Acho o senhor perfeito para entrar aqui.
Estancieiro Gaúcho - Mas na outra vida deixo quem reze por mim... pois eu era muito rico
Diabo - Viveu só pensando em si mesmo... nunca ajudou ninguém .

Estancieiro Gaúcho – Bem Capaz!!Faço parte de grupos em defesa dos animais. Sempre, ajudei sim, meus cavalos árabes, criolos e até as minhas vacas nelore, podem dar prova de minha bondade, sempre comeram cenoura, banana e maçã, e é claro feno, pasto e alfafa de primeira.

Diabrete: Alfafa de primeira, essa é boa, também tomavam banho com shampoo. haha
Estancieiro Gaúcho – Vou te sentar o braço! Sua diaba de olhar de cobra choca! Vou procurar outra barca? Se não, voudar com os burros n'água. (vê a barca do Paraíso e se dirige para lá)
Estancieiro Gaúcho - Ô da barca... Esta barca vai para o Paraíso?
Anjo- Sim.
Estancieiro Gaúcho - Deixe-me entrar aí, sou um fazendeiro rico. É bom que me deixe entrar! (ameaça)
Anjo - Esta barca não leva quem despreza os pobres.

Estancieiro Gaúcho: Mas eu sempre ajudei aos pobres.

Auxiliar do anjo: Quando? Quando explorava os pobres haitianos que chegaram ao país, tornando-os escravos nas tuas plantações.
Estancieiro Gaúcho - Mas que barbaridade!O inferno é o que me resta!!!
Diabo - Entre... aqui nos entenderemos, somos complacentes....! Hahaaha

TRAFICANTE:(Vitor)

Diabo - Vá, busque mais um...
Traficante –  pra onde vai isso mano? 
Diabo – Para o inferno...
Traficante – ( não valeu de boa, totranquilhão )
Diabo – Você estragou a vida de muitas pessoas, muitas famílias...
Traficante – Era meu trampo cara ... precisava de grana para sustentar minha família.
Auxiliar Diabo – Ajudava a sua e estragava a dos outros. Entre.
Traficante – Não! Há outra ali... fica na sua aí veio...
Diabo – Daqui a pouco nos veremos novamente.(risos)
Traficante – (dirigindo-se à barca do anjo)  Para onde vai essa dai ?
Anjo – Para o Paraíso.
Traficante – Posso entrar?
Anjo – E esta sacola cheia de dinheiro que você ganhou viciando as pessoas, estragando a vida delas?
Traficante – Era o meu trampo ! As pessoas compravam porque queriam.

Anjo - Nada disso. Você sabia o mal que estava fazendo...

Auxiliar do anjo - Aquela é sua barca...
Traficante – E se eu te der toda essa grana ?iai ?
Anjo – Vá pro inferno ...aquela é sua barca.
Traficante – a vais ficar de zoaçao com minha cara !!
Diabo – Ande !!! Não podemos perder mais tempo.
Traficante – (vê o nobre gaúcho) O senhor por aqui também!!! (irônico)
Diabo – Vai e busca aqueles dois ali!

Virginia: Não consigo permanecer indiferente ao ver pessoas freneticamente e, a todo momento, dedilhando seus celulares (que pouco têm de telefone nos dias de hoje,,,). Andam nas ruas como verdadeiros viciados nesta tecnologia. Fico até amedrontado quando vejo, em restaurantes, famílias inteiras sentadas sem se falarem, mas todos dedilhando seus celulares compulsivamente. Nos aeroportos, a situação é ainda mais drástica, pois aparecem os executivos e homens de negócios em geral com seus computadores portáteis, trabalhando incessantemente... Nunca se teve tantas formas de comunicação, mas também as pessoas modernas nunca estiveram tão sós... Precisam mandar suas fotos para os outros para sentirem que têm visibilidade... O frenesi é total. Pior ainda é ver as pessoas ficarem com eles nas mãos até andando dentro de suas casa, a todo instante olhando suas telas.

JOVEM COM CELULAR entra ouvindo música (Paola)

Diabo: (diabo chama a atenção do jovem) Olá, vi aquela foto que postaste, na rede social, pra falar a verdade, somos amigos.

Jovem: verdade, de qual foto estas falando.

Diabo: De varias, é claro.

Auxiliar do demônio: nos curtimos muito, para nos a vida é pura curtição.

Diabo: Vamos entra logo, estávamos te esperando.

Jovem: Esta barca vai para onde?

Diabo: Para a ilha do inferno e partirá logo.

Jovem: Para onde a gente vai? Tem wifi? Tenho muitas fotos para postar.

Diabo: Vamos para o inferno meu amigo. E è claro que tem

Jovem: Essa terra é sem graça. Não vai ter ninguém que curta.

Diabo: Claro que vai, tenho muitos seguidores.

Jovem: Será que vai ter guri bonito? Acho que não vai ter passageiros nesta barca?

Diabo: Vejo que você tem perfil para ser um de nós.

Jovem: Não! Deixo na outra vida pessoas que curtem e rezam por mim.

Diabo: O quê? Veio até aqui para zoar de mim moleca?

               Pessoas que te curtem ?...(risos)

              Viveu só para o prazer e ainda confia nos que rezam por ti? (risos).

              Suba rápido e contente-se, pois passaste pela morte e também passarás pelo rio a caminho do inferno .

Jovem: Não tem outro navio? Vou procurar...

Jovem: Oh! Gatinha, esse navio vai pra onde?

Anjo: Quem mandou você?

Jovem: esse navio vai pro céu ?Deixa eu entrar .

Anjo: Como morreste?

Jovem: atravessando a rua, tinha postado uma foto, e meus amigos estavam comentando, fui responder o comentário e o sinal mudou e eu não percebi.

Auxiliar do anjo: como não percebeste.

Jovem: Estava, comentando, já disse, mas nunca fiz mal a ninguém.

Anjo: você não cometeu crime nenhum, a não se desatenção, mas vamos conversar e ver ...

Auxiliar diabo: pega o celular e curte.

Jovem: só um minuto... curtiram a minha foto...

Anjo: você não aprendeu, em um momento tão importante de decisão do teu futuro e nem presta a atenção, não aprendeste com o teu erro, pecas pela vaidade. Nossa barca é pequena para tanto orgulho de si mesmo.

Diabo: A barca, venham... Que a maré está com brilho de prata!

             Um ventinho que mata os valentes remadores!(risos)

Jovem :Poxaaa! Enquanto estava viva só pensava em me mostrar, pensava ser adorada, confiei nas minhas amizades e não vi que me perdia, na solidão. (entra no barco do inferno)

DROGADO: (Ruan) (Entra o drogado, de boné, camiseta, chinelo e canivete).

Diabo – Meu amigo, experiente meliante.

Drogado – Fica quieto e não se mete, ou te passo o canivete!

Diabo – Que agressividade hahaha! Vejo que não tem bondade alguma. Mas me diga, morreu de dor de barriga? Hahahahhahaha

Drogado – Mas que mano sem malícia! Morri em tiroteio com a polícia parceiro!

Diabo – Eu sou malicioso sim, e sei bem como será seu fim!

Drogado – Boca fechada ou leva bala, seu desgraçado! Para onde vai esse transporte, que se pega após a morte?

Diabo – Vai para a favela do inferno, onde te sentirá da FEBEM um interno!

Drogado – Já fui para a FEBEM, e lá não fiquei nada bem! Agora a chamam de Casa, de Fundação casa, para fingir que tão ajudando a gente. Não vou para inferno coisa nenhuma, se continuar com isso te acerto uma! Ou então boto fogo nessa barca de bosta! E aí, quer fazer aposta?

Auxiliar diabo – Vai ter que entrar! Sempre foi imbecil e pamonha, fumava e vendia maconha!

Drogado – Eu fazia isso mesmo, e se zoar vai virar torresmo!

Drogado: Quer um peguinha, gostosa. (oferece para diabrete)

Diabrete: Já fui pega há muito tempo, meu amigo.

Diabo – Nós também no inferno, pessoas queimamos, mas elas sofrem anos e anos! Vais tostar no grande forno, viciado corno!

Drogado, na frente do Barco do Céu – E aí, gente boa? O motor desse Barco bonito soa bem!

Anjo – Viciado vil, seu lugar é no covil. Sem saúde e educação tua comunidade ficou, mas com isso o caminho do mal tu trilhou, e assim pecou. Homens indefesos matou, moças frágeis estuprou. Tornou-se filho do cão, não posso te deixar entrar neste barco não . Mas, se serve de consolação, o traficante que te deixou nessa situação, encontrou naquela barca de segunda mão.

Auxiliar Anjo: Talvez consiga ao purgatório no futuro promoção, já que não foi inteiramente sua de levar essa vida a decisão.

Drogado, voltando para o Diabo – Não posso mais escolher, no fogo vou arder! Posso ao menos meu pandeiro levar, para na barca um pagode tocar?

Diabo – Leve sim, sua frutinha! No barco faremos uma rodinha! Agora entre imediatamente, seu bandido indigente! (O drogado entra na barca).

Narrador: Já deu para perceber o que eu quis dizer sobre a história que estamos refletindo, o homem muitas vezes faz as escolhas mais fáceis, despreza os que respeitam os outros, aceita um dinheirinho “facilzinho”, se deixa levar pelas facilidades da vida, quer conseguir tudo do jeitinho brasileiro de ser. Mas este é o momento de mudarmos nossa maneira de agir, no momento final, quando a morte bate a nossa porta, não adianta chorar, fingir que se arrependeu, pois a nossa passagem já esta comprada e o bilheteironão vai mudar o horário da nossa partida.

ALUNAS:Aluna 1(Ingrid) Aluna 2 (Gabrielle)

Duas alunas aparecem discutindo:

Aluna 2: Viu o que tu fizeste?

Aluna 1: Eu? Foste tu que inventaste de brigar comigo e me agarraste dos cabelos, e por isso, caímos das escadas.

Aluna 2:Se tu tivesse me dado cola, eu não teria brigado contigo e estaríamos bem agora.

Diabo: Para que esta briga, minhas amigas, venham logo, já chegou a hora da partida,
Diabrete: venham, venham, se divertirem. haha
Aluna l: Para onde vai esta barca?
Diabo: Para o Inferno!!!

Auxiliar do diabo: (com a placa, apontando e rindo)

Diabrete: O que, não sabem ler? Para que tantos anos de estudo? Hahaha
Aluna l: De jeito nenhum... tem outra barca ali...
Diabo: Venha, entre... esta é maior.... mais bonita!
Aluna l: Sai, Capeta!!! (dirige-se ao Anjo)
Anjo: Quem é você?
Aluna l: Sou uma aluna, fui empurrada nas escadas e morri.
Anjo: E tu foste boa aluna?
Aluna l: Sim. Sempre gostei de aprender.
Anjo: Então entre, seja bem vinda!!!

Auxiliar do anjo: Nossa barca também é tua.

Aluno 2  (Gabrielle)
Diabo: Soube que foi culpa tua caírem da escada!!

Aluna 2: Claro que não, se ela tivesse me dado cola, eu não teria ficado brava.

Diabo: Bem se vê, que és das nossas, vamos entra logo.

Diabrete: Rápido, rápido, que não temos tempo a perder.
Aluno 2: Para onde vai esta barca...?
Auxiliar Diabo: Mostra a placa. (irritado)
Aluno 2: Má ideia... Tem outra ali...
               Não gostei muito desta... cheira mal...
Diabo: Fique à vontade!!! Para te esperar temos tempo. (irônico)
Aluno 2: (para o Anjo) Para onde vai esta barca?
Anjo: Quem é você?
Aluno 2: Uma aluna...
Anjo: Mas soube que você colava nas provas... cabulava aula, xingava professores.
Aluno 2: Só alguns chatos...
Anjo: De jeito nenhum você pode entrar aqui.
Auxiliar do Anjo: Vai aquela é a tua barca...
Aluno 2: Fazer o quê...
Diabo: Seja bem vinda!!! (diz o diabo)

TORCEDORES 1(Charles) 2(Douglas) 3(                )    4(                )
Diabo: Vá buscar aqueles ali com camisa de time.

Diabrete: Pra já.   E ai rapazes bonitos, como foi o jogo? Vamos que chegou a hora.
Torcedor 1: Para onde vai esta barca?

Auxiliar diabo: (mostra a placa e sorri)
Diabo: Soletra a palavra I N F E R N O.

Torcedor 2: Inferno, essa não.

Diabo: Por que, não? Vocês gostam de uma boa briga, não é? O inferno é o lugar dos brigões.
Torcedor 3: Mas a briga começou no campo, com os jogadores.

Diabrete: E vocês correram para ajudar?

Torcedor 4: Torcedor que se prese sempre ajuda o time.
Torcedor 1:  Acho que sobrou pra nós...
Torcedor 2: Não quero ir para o inferno. Olha, tem um anjo ali. (dirigem-se para lá)
Torcedor 3: Para onde vai esta barca? Podemos entrar?
Anjo: Quem são vocês?
Torcedor 4: Somos torcedores...
Anjo: De jeito nenhum... vocês ficam se ofendendo e se matando por qualquer coisa.
Auxiliar do anjo: Quantos torcedores já morreram por causa disso.
Torcedor 2: Mas é pelo nosso time.
Anjo: Não... vão para aquela barca!
Diabo: Entrem, entrem... Vão torcer pelo meu time agora... Fogo Eterno FC.. (e ri)

Virginia: Para atender às leis do mercado, tudo precisa ser descartável e passageiro. A própria moda, fenômeno social natural, passou a ser manipulada pelos interesses comerciais como nunca na história. Jovens, de forma acrítica, incentivados pela mídia interessada, imitam os chamados “famosos” e usam e se portam ridiculamente como eles. Compram roupas, tênis e brinquedos caros só porque têm nome ou retratos destes “heróis” riquinhos... que por dinheiro incentivam estes comportamentos ingênuos.

PUNKEIRAS:Érica - Marina

Punkeira1:   (                   )     Punkeira 2:    (                     )
As Punkeiras entram dançando.
Diabo: Busque aquelas ali...

Diabrete: (começa a dançar Punk)

Auxiliar do demônio: Sim mestre. Há vida ruim, mas até que essas Punkeira são gostosas, serão boas companheiras de viagem. Hehe

                                   Ai! gostosas, o lugar de vocês já esta guardado. Kekek

Punkeira1: Para onde vai esta barca?
Diabo: Entrem, seus lugares estão reservados...

Punkeira2: Quem é você?
Diabo: Adivinha!!!

Punkeira1:  – (se pintando) Para onde vai esta barca?
Punkeira2:  – De jeito nenhum ! Eu não entro ai

Punkeira1:  Não queremos entrar aí...
Diabo: Tente aquela ali...

Punkeira1 e 2: ( vão dançando para o anjo)
Punkeira 2:  - Para onde vai esta barca?
Anjo: Quem é você?
Punkeira1: Sou uma punkeira...

Anjo: Aqui não. Vocês só pensam em dançar... não se preocupam com a família... e sua dança é muito maliciosa.

Auxiliar do anjo – Aqui não entra quem não se preocupa com os outros e vocês só pensam em si mesmo, em atrair os outros através do corpo. Sua barca é aquela ali.
Punkeira2:  Com aquele cara esquisito ali!!! Não gostei da maquiagem dele... muito esnobe!!
Anjo: Assim como vocês... podem ir
Punkeira 1:  – Não tem jeito então?
Punkeira2:  - Fazer o quê! ( e vai dançando para a outra barca)
Auxiliar do Diabo: vem logo, (pega uma das punkeiras pelo braço)
Punkeira 1:  – Fazer o quê!!! Não empurra, seu grosso!!!

Prostitutas: Maria Gostosa (Raissa) – Maria Boa (Patricia) – Maria Vai com as outras (Kailane)

Maria Boa: Ô, da barca, Ei

Diabo: Quem chama?

Maria Boa: Maria Barros

Diabo: Ora se não é... a famosa Maria boa!

Maria Boa:Shiiii! Maria Barros!          

Diabo: Se é por bem ou por mal, marca a história de Natal.

 Entre aqui e começa a remar.

Maria Boa: Não quero entrar ai.

Diabo: Que beleza a hesitação!

Maria Boa: Não é essa barca que procuro.

Diabo: O que traz de bagagem?

Maria Boa: Uma mala de fetichespara os homens se alegrarem.

          Cinco trouxas de tolicesque eu ouvia da clientela.

         Uns volumes de Machado

Diabo: Ora, embarque logo! Deixa de besteira.

Diabrete: Uns volumes de Machado, no mínimo deves te achar a Capitu.

Maria Boa: Ai! Eu vou para o paraíso!

Diabo: E quem te disse isso?

Maria Boa: Lá vou por merecimento de ter sofrido tanto tormento.

                    Aos dezesseis abandonada pelo noivo safado, jogada à prostituição,

pela família rechaçada.  Se é meu destino então, não fujo não, mas

vou na barca que desejo.

[Chegando à barca da glória diz ao anjo]

Maria Boa: Barqueiro que é do bem, leve-me em tua barca, parao além.

Anjo: O que te faz merecedora?

Maria Boa: Sou quem de nome Maria,de nossa mãe, das romarias, chamada de Boa pela bondade, não sem censura.

                   Eu cuidei das moças danadas,abriguei e lhes arrumei maridos

                   Custeei muitos matrimônios,mas só me casei em sonhos.

Anjo: Você pecou muito.

Maria Boa: Ora, não por opção, sempre me arrependi.

Anjo: Pecaste como todo ser humano

Te envolveste no universo mundano.

Corrompeste a família.

Porém não foi por escolha,

Foste jogada e perdida.

És casta de coração

E te arrependeste, merece o perdão.

(Maria Boa ajoelha e, em seguida, entra na barca.)

Maria Gostosa: Oie! Alguém está aí?

Maria vai com as outras: Que barca é esta?

Diabo: Quem está chamando?

Maria Gostosa: Maria Gostosa.

Maria vai com as outras: E eu me chamo Maria vai com as outras ou com os outros como quiseres ou achares melhor.

Diabo:Hum... Podem entrar, peguem um remo e...

Maria Gostosa: Não vou entrar nesta, não.

Maria vai com as outras: Eu não remo não, só o que faltava.

Maria Gostosa: Eu até que remaria, mas esta barca não é a que me espera.

Auxiliar do diabo: Já começou o ritual... da santidade e da lamuria

Maria Gostosa: Estou procurando a outra barca.

Diabo: E o que você trazes contigo, para oferecer ao anjo da paz?

Maria Gostosa: O que me convém

Diabrete:  O que te convém?

Maria Gostosa:  Muitas falsas virgindades, assim como mentiras,

                 Falsidades,... alguns roubos... e traições.

                Várias joias hee,...As tantas moças que vendi.

Diabo: Pode entrar, então. Esta é a tua barca.

Maria Gostosa: Ei! Sai fora! Eu vou para o paraíso!

Maria vai com as outras: Eu também vou com a Maria para o paraizo.

Diabo: Quem disse?

Maria Gostosa: Lá é meu lugar!

                Eu sou uma mártir!

Quantas bofetadas levei?!

                 E quantos insultos?!

Quanto sofrimento resisti?!

                Se eu for para o inferno,

                Todo mundo vai!

Maria vai com as outras: Porque vida mais sofrida eu nunca vi!

                           Aquela barca é nosso transporte.

Maria Gostosa: Com licença, Caro Diabo.

Chegando à barca celestial, anuncia sua presença:

Maria Gostosa: Olá! Aqui chegamos, somos as Marias!

                           Com licença, deixe-nos entrar!

Anjo: Ei! Não sei quem são, e nem quem as trouxe aqui, mas meia volta!

Maria Gostosa : Oh! Não! Te peço de joelhos!

                 Procure bem nesta lista!

                    Sou eu, Maria!

                   Aquela que dava o pão de cada dia às meninas!

                   Quantas obras divinas eu fiz?!

                   Eu converti tantas garotinhas!

                   Todas encontraram dono!

Maria vai com as outras: Sou testemunha, fui uma das convertidas. E encontrei muitos donos. haha

Anjo: Assim como converteste Maria Boa, sei que foste tu que a enganastes levando-a para tua casa e a corrompendo.

Auxiliar do anjo: Parem de nos importunar!

Maria Gostosa: Você vai, não vai, nos levar!

Auxiliar do anjo: Xô, xô! Pare e nos encher!

A garotas retornam À barca do inferno, lamentando muito e requebrando

Maria Gostosa: Estou aqui! Pode me levar de uma vez!

Maria vai com as outras: Eu também voltei, percebi que este é meu lugar.

Diabo: Ora, podem entrar senhoritas.

            Se você dizem que tiveram vida santa,

            Vocês sentiram a recompensa, em breve!

Hahaha

Virginia:

JOGADOR: (Denian)

Entra o jogador de futebol, vestindo o uniforme de seu time, carregando uma bola embaixo do braço.

Diabo: Ora, quem vem até meu barco! É o grande craque, David Ronaldo!

Diabrete: (com pompons fazendo coreografia de animadora de torcida)

Jogador: Fazer o quê, eu sou o melhor! Um time inteiro em relação a mim é o pior!

Diabo: Grande artilheiro do time líder do campeonato, jogador nato.

Diabrete: (animadora de torcida com pompons)

Jogador: Eu sou fantástico! Mas o que você faz aí, estático?

Diabo: Logo saberás, não podes voltar atrás. Mas, me diga, que morte lhe deu partida? Morreu de bala perdida?

Jogador: De carro, fui vítima de acidente. Confesso que não sou prudente.

Diabo: Bem, vá entrando na barca. Não guiarei na contramão.

Jogador: E esse transporte que tem de enxofre odor não possui nenhum cobrador?

Diabo: Pagaste a passagem em vida. A viagem é só de ida.

Jogador: E para onde leva essa lata de sardinha? Até o fim da linha?

Diabo: Ela leva até o estádio do suplício, onde as torturas terão início!

Jogador: Então essa lata velha vai até o inferno? Não irei de modo algum ao castigo eterno! Sou artilheiro e tricampeão, jogo com a camisa e o coração!

Diabo: Não se mime, nem torço pro seu time. Gosto é do Flamengo, aquele time é o meu dengo. Além disso, sua lista não é nada pequena. Não poderei aliviar sua pena.

Jogador: Então, chifrudo aprendiz, o que de errado eu fiz?

Diabo: Você se esqueceu de seus amigos de infância, não lhes dando nenhuma constância. Foram eles que lhe ensinaram a jogar futebol, e mesmo rico deixou que trabalhassem duro sol a sol.

Jogador: Pecado menor, seu mariquinhas! Sempre tirei fotos com as criancinhas!

Diabo: Pouca percepção para o caso já tem que o vi, não consegue distinguir mulher de um travesti. Depois dos quarenta, na política tentou ter seu final, para falar que Copa não se faz com hospital.

Jogador: Mas dediquei a Jesus cada gol que fiz, até mesmo se a bola bateu na trave por um triz!

Diabo: Então, caro Gusmão, por que não tenta a sorte na outra barca?

Auxiliar do demônio: (fica fazendo embaixada).

Jogador:(se aproximando da barca celeste) – Você dessa barca é motorista ou é um simples manobrista?

Anjo: Sou eu o guia desta celestial carruagem, mas infelizmente não posso lhe dar passagem.

Jogador: Eu posso saber a razão, de tamanha desconsideração?

Anjo: Jogador mercenário, fez até seu treinador de otário. Nunca jogou com o coração, apenas para autopromoção. E ainda por cima deixou os amigos em deficiência, eles que lhe ensinaram futebol com paciência.

Auxiliar do Anjo: Passou com os pobres, mais de um dia inteiro, mas movido sempre pelo dinheiro. Você sempre enganou o povo de forma revoltante, justo ele que assistia aos seus jogos sob o sol escaldante.

Jogador: (voltando para a barca do Inferno) – Perdi tudo, caro chifrudo...

Diabo: Irás agora jogar pelada onde o Judas perdeu as botas, junto com outras escórias mortas! (O jogador entra na barca).

Virginia: Os homens continuam lutando e competindo entre si, se aproveitando dos mais fracos, das minorias, tomaram de assalto a própria natureza e se distanciaram dela como se ela fosse um produto a ser negociado na feira. Os homens sempre precisaram da natureza, mas ela nunca precisou deles. Pelo contrário, essa espécie é das mais predadoras e, sendo assim, aquele pensador acertou em dizer que o homem é lobo de sua própria espécie. Em busca de riquezas, notoriedade, poder, capacidade de decidir sobre o destino da maioria, muitas pessoas, que não podem ser consideradas humanas, não relutam em retirar do seu caminho qualquer inconveniente. Todavia, em meio a tão vasto deserto, é possível encontrar oásis aprazíveis, com água fresca e sombra generosa.

PESCADOR (Daniel)

Entra o pescador, carregando sua rede.

Diabo: Vem pescador, vem navegar no meu barco, pescar comigo colega de profissão. Puxar na rede as almas em condenação.

Pescador: Bom dia, moço! Já é hora da partida?

Diabo: Sua fala me irrita, mas entra logo, minhocuçu?

Pescador: Minhocuçu, tem isca de sobra meu amigo, estou louco para pescar!

Diabo: Do que morreu, pobre pescador?

Pescador: Fui pego, por numa tormenta, um raio atingiu a embarcação!

Diabo: Morreu de acidente, mas mesmo assim está contente! Odeio gente assim, ri até do próprio fim!

Pescador: Há muito tempo ando de barco, e vejo aí uma velha embarcação. Para onde segue esse transporte?

Diabo: Segue ele para a zona infernal, onde não há misericórdia ou perdão.

Pescador: Diabo, sei que não sou um dos seus, mas sigo sempre a vontade de Deus! Se meu destino é o castigo, é que fui joio ao invés de trigo!

Diabo: Odeio honestidade, e grande é vossa imbecilidade. Trabalhou a vida inteira, nunca tomando a dianteira, e agora acha que merece o céu ? Cabeça de anzol?

Pescador: Tentar-me não adianta seu corno de anta! Espere aqui, chifrudo, por favor, vou até a outra embarcação confirmar a vontade do Senhor!

Diabo: Já vai tarde, idiota!

Anjo: Bem vindo companheiro, pode entrar neste barco que vai rumo ao céu, tiveste a profissão dos amigos do senhor. Viveste uma vida justa, digna de um homem de Deus.

PROFESSOR (Mathias)

Diabo: Bom dia, quem é você?

Professor: Meu nome é João.

Diabo: Eu queria saber sua profissão? Será juiz? Engenheiro? ah já sei médico? Salva vidas?

Diabrete: Salva vidas, essa foi boa... hahaha

Professor: Sou professor.  Não gostaria de ter feito outra coisa. Fiz o que gostava.

Diabo: De que morreu, morte morrida ou morte matada.

Professor: Estava reivindicando aumento no salario, e um cão me atacou.

Diabrete: Um cão! Vi algo na televisão.

Diabo: Caro mestre, profissão nobre, pena que paga tão pouco. Mas é uma santa vocação.

Professor:O que me irrita é o falso pensamento, de que o magistério é uma vocação. Não o magistério é uma profissão. Eu sou um trabalhador. Não preciso de agrados em datas comemorativas, preciso, ou melhor, exijo respeito pela profissão que escolhi. Um salario digno, não essa remuneração que recebo e que fica muito a desejar. Gostaria de não precisar fazer bicos para poder sobreviver, já que o salário não contribui adequadamente para o meu sustento e de minha família.

Diabo: Não quis ofender, não falei por mal,é que quando o vi, logo imaginei, ai vem uma pessoa importante, deve ter muito dinheiro, pensei.

Auxiliar do demônio: Muito dinheiro. hahaha

Professor: Professor não é um trabalhador que gera um bem de grande visibilidade, como os engenheiros e os arquitetos; não salva vida como os médicos; não tira ninguém da cadeia, como os advogados. E não movimenta fortunas. Nossa ação é silenciosa e subversiva. Formamos cidadãos, massa crítica e pensante. Ampliamos os horizontes, ensinamos a voar, andar, construir, pescar, produzir, salvar, defender, enfeitar, curar, amar, imaginar, sonhar, lutar, falar, dirigir, agradecer, respeitar, viver e é isso que assusta muita gente.

Diabo: Vamos deixar de conversa mole, e de discurso salarial e entra logo na barca que esta na hora da partida, és o último passageiro dessa leva.

Professor: Estas enganado, se achas que vou entrar assim, sem mais nem menos, vou tentar a minha sorte na outra barca, ela é mais simples, menos pretenciosa.

Diabo: Menos pretenciosa, vai pode ir.

Professor: Com licença, posso entrar?

Anjo: Pode entrar professor. Sei que sua vida é bastante complicada, com tantas coisas a ensinar, com tantas provas a corrigir, com toda a preocupação em saber se os seus alunos conseguiram aprender… Creio que sejam poucas as profissões que exijam tanto de alguém como o magistério, pois a sua tarefa não termina quando o sinal sonoro indica o fim da aula.

Anjo: Vamos, é hora de partir, águas tranquilas nos esperam, a barca da luz vai zarpar. Ergam se as velas é hora de voltar para casa.

Virginia:

A barca do céu se ilumina e a do inferno se apaga.

Versão Daria Fabres